GERAL

23/10/2014 18:27

Vintage - BUTCH CASSIDY & SUNDANCE KID - 1969 - Butch e Sundance são dois ladrões de renome no velho oeste americano do século 18, lideres do bando do Buraco Na Paraede. Certo dia assaltam um comboio da Union Pacific, e com isso desencadeiam umja perseguição, que não vai dar tréguas aos dois amigos, por um grupo de cowboys comandado por um xerife incorruptívele e um rastreador apache. Ao longo da película, vai-se desenrolando uma série de peripécias, onde os dois amigos fazem de tudo para escapar, até, num ato de desespero fugir para a América do Sul, mais precisamente para a Bolívia, devido aos problemas que tinham com a justiça dos Estados Unidos. Um western cheio de ação e humor com os astros Paul Newman e Robert Redford.

 

TOP 10 PEARL JAM

01-Yellow Ledbetter

02-Black

03-Jeremy

04-Daughter

05-Better Man

06-Even Flow

07-Give To Fly

08-Wishlist

09-Alive

10-I Am Mine

 

MÚSICA

 

George Harrison foi talvez um dos mais injustiçados em toda a história da música. Sim, ele foi um Beatle, reconhecido mundialmente, ganhou rios de dinheiro, teve belas mulheres, foi influente, admirado, amado, idolatrado, mas... E é nesse mas que a coisa pega. Na minha opinião, a música mais linda já gravada pelo grupo chama-se Something. E creio que Elvis Presley devia concordar ao menos em parte comigo, já que o rei a regravou. E adivinhem de quem é a autoria de Something? Um pirulito para quem disse George Harrison. Se fosse apenas esta música, tudo bem, poderiam dizer que foi um tiro de sorte. Mas não foi. Segue-se a Something, Here Comes The Sun, With a Little Help For My Friends – que desnuda-se em sua completa beleza na interpretação de Joe Cocker –, While My Guitar Gently Weeps, My Sweet Lord, Give Me Love, Got My Mind Set On You, Love Comes To Everyone e por aí vai. Então eu me pergunto: como é que um cara que tem músicas como essas em seu cast pode ter sido relegado a segundo plano dentro da banda. E a resposta é fácil: John Lennon e Paul McCartney tinha um ego do tamanho do mundo. E com dois egos como os destes dois abraçando tudo ao seu redor, não sobrou muito espaço para os outros componentes da banda. Pete Best foi eclipsado fora da banda antes que a fama os encontrasse, e posteriormente mostrou que realmente não tinha o direito de estar na banda, já que nunca produziu nada de relevante. Quanto a Ringo Star... sei que alguns ficarão bravos comigo, mas a verdade é que entre o Ringo e qualquer outro baterista mediano, acho que ninguém sentiria diferença. Mas o George... Pô, o George durante e depois dos Beatles mostrou todo o talento como compositor, e mais, como intérprete. Com aquela voz chorada, inconfundível, era tão grande quanto John, e na minha opinião maior do que o Paul. Infelizmente, George nos deixou há alguns anos e só resta aos seus fãs recordar sempre e lembrar aos outros, sempre, quem foi George Harrison. Se tiver qualquer dúvida sobre o que digo, vai ouvir o George. Tenho certeza que valerá a pena.

 

 

SONETO DE DEVOÇÃO

Rio de Janeiro , 1938

 

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Vinicius de Moraes

O poema mais erótico do Poetinha

 

(...)

Entre os poetas da lígua portuguesa, Fernando Pessoa, para mim, é o melhor. Mas ainda melhor que Fernando Pessoa, Alberto Caeiro. O que, no fundo vem ser a mesma coisa. Acho que quase todo mundo sabe, mas como alguns poucos desconhecem, cabe explicar: Fernando Pessoa usava de um expediente um tanto quanto incomum; ele criava uma nova personalidade - fenômeno que ele mesmo batizou de heterônimo -, com a qual ele se despregava de si mesmo, do ser Fernando Pessoa, e podia assim escrever sob a a ótica de alguém diferente dele. Os mais famosos de seus heterônimos eram Àlvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Dos dois primeiros falarei em outra oportunidade. Alberto Caeiro, de acordo com seu criador, era um homem simples, do campo, pastor de ovelhas, um anti-metafísico desprezava o uso da filosofia em suas criações, e em sua particular visão de mundo. Abominava a metáfora. Sua obra é relativamente curta, se comparada aos seus parceiros heterônimos e ao próprio Fernando Pessoa: O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso, e alguns poucos textos que vem sendo desencavados de seu velho baú, e dos quais poucos vieram à público. Aqui, vou me dedicar a falar de O Pastor Amoroso.

O PASTOR AMOROSO

I

Quando eu não te tinha

Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...

Agora amo a Natureza

Como um monge calmo à Virgem Maria,

Religiosamente, a meu modo, como dantes,

Mas de outra maneira mais comovida e próxima...

Vejo melhor os rios quando vou contigo

Pelos campos até à beira dos rios;

Sentado a teu lado reparando nas nuvens

Reparo nelas melhor -

Tu não me tiraste a Natureza...

Tu mudaste a Natureza...

Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,

Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,

Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,

Por tu me escolheres para te ter e te amar,

Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente

Sobre todas as cousas.

Não me arrependo do que fui outrora

Porque ainda o sou.

 

 

II

Vai alta no céu a lua da Primavera.

Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.

Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,

E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.

Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,

Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,

Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

 

 

III

O amor é uma companhia.

Já não sei andar só pelos caminhos,

Porque já não posso andar só.

Um pensamento visível faz-me andar mais depressa

E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.

E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.

Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.

Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

 

 

IV

 

O pastor amoroso perdeu o cajado,

E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,

E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.

Ninguém lhe apareceu ou desapareceu. Nunca mais encontrou o cajado.

Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.

Ninguém o tinha amado, afinal.

Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:

Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,

As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,

A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem, estão presentes.

(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco nos pulmões)

E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.

 

 

V

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,

E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.

Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,

E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.

Amar é pensar.

E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.

Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.

Tenho uma grande distracção animada.

Quando desejo encontrá-la

Quase que prefiro não a encontrar,

Para não ter que a deixar depois.

Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só

Pensar nela.

Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

 

 

VI

 

Todos os dias acordo com alegria e pena.

Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.

Tenho alegria e pena porque perco o que sonho

E posso estar na realidade onde está o que sonho.

Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações.

Não sei o que hei-de ser comigo sozinho.

Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.

 

Alberto Caeiro, Fernando Pessoa

 

Diferente do que acontece com O Guardador de Rebanhos, onde - por mais que os poemas estejam ligados de alguma forma -, cada um dos 49 poemas tem personalidade própria e podem ser lidos separadamente, O Pastor Amoroso, para mim, sugere um texto uno, como partes de um corpo indissolúvel. Ainda que, lidas separadamente, guardem uma essência própria, é quando lidas em conjunto, as sete partes, que o poemas se desnuda. Uma história com começo, meio e fim. Um romance que começa como todo romance, onde tudo são flores e o amor faz promessas de eternidade. Em certo momento, o poema descreve a ausência e a saudade, quando o relacionamente se rompe. E, por fim, a solidão e consciência de que o amor se foi, embora ainda tenha deixado marcas ideleveis em quem viveu aquela história.

Simplesmente

Caiero.